terça-feira, 29 de agosto de 2023

Crônica Lírica - Fernanda Sophia

 Um Instante de Calmaria

Era um dia desses em que São Luis parece mais uma máquina incansável do que uma cidade. O trânsito, uma sinfonia caótica de buzinas, e as pessoas, como formigas apressadas em seu eterno corre-corre. Eu estava lá no meio, como um peixinho tentando nadar contra aquela correnteza de pessoas apressadas.

No meio daquele turbilhão, vi uma senhorinha sentada em um banco de praça. Ela estavam com aquele olhar distante, sabe? Como se estivesse revisitando memorias. A curiosidade me puxou e me fez sentar ao lado dela. Boa tarde, moço, ela disse, com um sorrisinho tímido.

Boa tarde! Dia agitado, né? Respondi. Ela assentiu e, como se estivesse compartilhando um segredo, começou a falar. Eu me lembro de quando essa praça não era só concreto e pressa. Era um cantinho verde, cheio de flores e bancos onde os amigos se reuniam. Sabe, meu marido e eu costumávamos sentar aqui. Ele sempre trazia um saquinho de pão para alimentar os pombos. Dizia que eram nossos bichinhos de estimação.

Sorri imaginando o cenário enquanto ela continuava: Passamos tantos anos juntos, ele e eu. As crianças cresceram brincando aqui. Hoje, mal reconheço o lugar. Mas, sabia, aqui ainda é o meu refúgio. Venho todos os dias, só para sentir um pouco daquela tranquilidade que ficou no passado. Enquanto ela falava, olhava as pessoas passando apressadas. É engraçado, né? A vida parece que não dá tempo pra gente apreciar esses momentos simples. A gente corre tanto que nem vê as mudanças acontecendo ao nosso redor. 

Concordei com um aceno. A conversa com aquela senhorinha me fez perceber que, no meio do caos, é bom parar de vez em quando. Olhar em volta, ouvir histórias, sentir o vento, os sons da cidade. Aquilo era um convite para a calmaria em meio à tempestade diária. 

Vou indo, moço. Obrigada pela companhia. Ela se levantou com um sorriso sereno. O prazer foi respondi.

Continuei ali, na praça que um dia fora um jardim de memórias para aquela senhorinha. Olhei para o relógio, atrasado como sempre, mas senti uma paz diferente. Às vezes, basta um momento de conversa com alguém com um olhar mais antigo para perceber a poesia escondida nas ruas movimentadas. E assim, no meio do furacão do dia-a-dia, eu me permiti ser levado pela brisa suave de uma história descoberta.

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