Entre Mares e Memórias
Sob o tênue céu do pesque e pague familiar, ecoou a voz da memória. O senhor, acolhido pelo
banco gasto, compartilhou suas antigas memórias, e eu me tornei a testemunha do passado
através de seu olhar enrugado.
“Os tempos dourados habitam minha mente”, ele falou, as palavras fluindo como uma suave
correnteza. Ele estava imerso em sua própria nostalgia, e eu, inquieto, ansiava pelas histórias
que seu coração trazia consigo.
Curioso, indaguei: “Qual a face desses dias memoráveis?”. O velho sorriu melancolicamente,
como se um céu estrelado dançasse em suas lembranças. “Eu e meu camarada, navegávamos
incansáveis, caçando peixes para o mercado da cidade”, ele começou, sua voz tingida de
saudade.
“Incrível!” suspirou. “Uma vida transbordante de aventura e prosperidade.” No entanto, sua
expressão, antes serena, tornou-se sombria, como uma nuvem que oculta o sol.
“Ah, sim”, ele respondeu, sua voz embargada. “A vida era doce, até a crueldade de uma doença
ceifar minha amada esposa. Tempos sombrios aqueles, quando a cura era um sonho distante.”
Seu olhar se perdeu no horizonte, como se tentasse vislumbrar uma realidade passada.
“Até que, em um dia fatídico, o oceano rugiu com fúria”, continuou ele, sua voz oscilando como
ondas em tormenta. “Nosso barco, lançado além das fronteiras seguras, desafiou a
tempestade. Em busca de sobrevivência, seguimos Ao madeiramento despedaçado.”
Ele prosseguiu, a dor entrelaçada em suas palavras: “Em meio ao rugido dos elementos, a
morte nos sussurrou com suas gélidas mãos. Meu camarada, meu fiel aliado, foi levado pelas
profundezas inalcançáveis. E ali, nas ruínas à deriva, encontrei-me solitário.”
Em silêncio, o senhor permaneceu, suas lembranças emaranhando-se como algas à deriva.
Acompanhei-o até o desfecho de sua jornada, ao testemunhar sua partida do refúgio das
histórias contadas.
“Grato estou, jovem amigo”, ele disse, um brilho de gratidão em seus olhos calejados. “Por
ouvir as memórias que se escondem dentro de mim. Tu és um farol, dissipando minha solidão.”
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